Ana Paula Mill.
Uma audiência pública para tratar de assuntos relacionados à Proteção da Criança e do Adolescente foi realizada às 19 horas desta quarta-feira (06), em Marechal Floriano. A sessão foi proposta pela Câmara Municipal de Marechal Floriano e pela Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos. No plenário da Câmara foram discutidos temas como maus-tratos, exploração sexual de crianças e também a relação com as drogas.
A sessão foi aberta pelo presidente da Câmara, João Cabral. Ele ressaltou que o tema é muito preocupante. “A coisa está tão complicada, que às vezes, o pai ou a mãe chega a ir à delegacia para pedir que o filho seja preso, porque prefere ver o filho preso que morto. Acredito que a base disso tudo é familiar. O primeiro exemplo da criança tem que vir de dentro de casa. Eu acredito que podemos fazer um bom trabalho em Marechal Floriano. É só a gente se unir e trabalhar.”
O vereador Cezar Ronchi, que propôs a audiência, também destacou a importância do momento. “Essa é a primeira audiência pública, na história de Marechal Floriano, para tratar desse assunto. Espero que uma semente tenha sido plantada aqui”. Foi dele o projeto de Lei que instituiu, em 18 de Julho de 2013, a Semana Municipal de Proteção à Criança e ao Adolescente.
O prefeito Lidiney Gobbi frisou o quanto é triste ver crianças desprotegidas, sendo exploradas por adultos. “A gente vê, nas ruas, adultos que mandam as crianças pedir dinheiro, entregar drogas e fazerem até coisas piores. Imagine que futuro tem uma criança dessas. A minha visão é de que todos os seguimentos têm que dar as mãos. Começando desde pequenas, é que essas crianças vão fazer a diferença”.
O presidente do Projeto Arca – Guarda Jovem, o cabo da Polícia Militar Márcio Barcelos, afirmou que a prevenção é a melhor solução. “A prevenção é a forma mais barata para amenizar esse tipo de problema. Hoje, os pais estão com medo de impor limites aos seus filhos. Mas o limite tem que ser imposto com amor e carinho. Se o Brasil parasse para pensar, deixava de fazer tantas leis de repressão e começava a trabalhar com a prevenção.”
O jornalista Rael Sérgio das Neves, do jornal online Notícia Capixaba e correspondente do Jornal A Tribuna, também falou sobre o aumento de todo o tipo de violência. “A cada dia que passa, a violência aumenta. Hoje, temos que educar os pais. Tem que pegar pela raiz e corrigir dentro de casa. Quanto mais reuniões forem feitas e quanto mais se falar na proteção à criança, maior a prevenção.”
O soldado Usálio Piveta informou que o Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd) chegou a Marechal Floriano em 2010. A equipe é formada por capitão Almeida, cabo Cristina, soldado Schineider e soldado Piveta. Hoje, 100% dos alunos do 5º e do 7º ano das redes pública e particular são atendidos pelo Proerd. “Até hoje, já foram 2,7 mil crianças atendidas em Marechal Floriano, em apenas quatro anos”.
A secretária Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos, Iracema de Paula de Lima Freitas trouxe dados importantes sobre o abuso sexual de crianças e adolescentes, que ocorrem em Marechal Floriano. Nas situações em que as vítimas são levadas para a casa-abrigo, 99 % dos casos envolve o abuso sexual. Desses, em 95% tem o envolvimento de parentes como pai, padrasto e irmão. E 85% desses casos são registrados no interior do município.
“O abusador fica solto, e a criança presa na casa-abrigo. Os nossos casos são assustadores. E tem um problema que maior ainda: a sequela psicológica. Essas são as piores possíveis. Esse é um problema de toda a nossa sociedade, de todas as famílias de marechal Floriano. Foram feitas palestras sobre o assunto em todas as escolas do município. Muitas crianças não tinham conhecimento do assunto porque os pais não falam nisso em casa. Mas, tratando disso na escola, a criança já fica atenta aos sinais do abusador”, alertou.
O último palestrante da noite foi o Doutor e professor de Serviço Social da Emescam, Bruno de Souza Toledo. Ele lembrou que existem várias formas de exploração sexual de crianças e adolescentes como o tráfico sexual, o turismo sexual e a exploração por meio de vídeos e fotos.
“Mas existe um ponto em comum em todas essas formas de violência. Continuamos a ver crianças e adolescentes como objetos para os adultos. Qualquer relação que se tenha com criança e adolescente deve-se levar em consideração que eles são seres humanos, que têm vontades. Crianças e adolescentes precisam de cuidados especiais. Precisamos pensar em redes de proteção para essas crianças. É responsabilidade da família cuidar das crianças, desde que tenha condições para isso. Se não, ela passa a ser uma ameaça para as crianças e adolescentes”, finalizou Bruno Toledo.
A ausência de representantes do Conselho Tutelar de Marechal Floriano e também do Poder Judiciário foi sentida pelos participantes da audiência pública. Professores, funcionários da prefeitura e da Assistência Social, secretários municipais, vereadores, crianças e a comunidade em geral participaram do ciclo de palestras, que terminou pouco antes das 23 horas.