Escritora, poeta e contista. Ocupante da cadeira de nº 06 da AFHAL (Academia Florianense de História, Artes e Letras “Flores Passinato Kuster”) |
Giovana Schneider
O passado pode revelar fatos pitorescos, tristes ou culturais…e conhecer é hilário. Quantas aventuras! Boas lembranças da casa mal-assombrada e, de uma infância maravilhosa, uma pena só ter o registro da ruína, mas, com certeza, crianças que lá brincaram, hoje, adultos, lembram-se direitinho de como ela era.
Esta casa foi construída pelo senhor José Henrique Pereira. O seu contador morou lá por algum tempo. Depois o senhor Antenor dos Santos Braga, um dos primeiros farmacêuticos de Marechal Floriano, adquiriu para sua moradia, que deixou de herança para a filha. Muitos se recordam de como era um lugar bonito e, com muitas árvores frutíferas. Mas com o tempo ficou abandonada e conhecida como mal-assombrada, lugar de brincadeiras e aventuras de algumas crianças.
Isso aconteceu nos áureos tempos de uma época, que ser criança era brincar, sonhar e se aventurar. Trago boas lembranças de Marechal Floriano, e dos bons tempos da minha infância.
Éramos em cinco amigas, e gostávamos de nos aventurar. A pequena Marechal Floriano era um lugar ótimo para as nossas aventuras de criança. Havia duas casas antigas que nos chamavam a atenção, uma que hoje está reformada, e a outra não existe mais, e que no local vai ser construidido uma escola, mas isso já é outra história.
Então, a casa que realmente nos chamava atenção, era a que não existe mais, pois ficava mais escondida, e era mais assombrosa para nós. Até que um dia juntamos coragem, e fomos lá para conhecê-la. Ficamos encantadas com a casa, e as antiguidades que tinha, até um espelho engraçado que nos refletia tortas, uma banheira estranha. As portas grandes dentro da casa, o teto era alto. A impressão era que tinham fugido da casa, e isso para nossa mente fértil, era uma viagem. Foram momentos divertidíssimos. E no quintal, vários pés de jabuticabas, que maravilha; tinha outras frutas, mas os nossos olhos viram as lindas jabuticabas.
Como éramos uma turminha aventureira, e não desistíamos facilmente. Havia um senhor que estava sempre espreitando para não deixar ninguém adentrar na propriedade, e também uma senhora que morava na outra casa, a tal que agora está reformada. Sempre precisávamos de um plano, para assim conseguirmos retornar e brincar. Até limpamos para ficarmos mais acomodadas. Era o nosso “clubinho”.
Um belo dia a senhora nos viu, e foi aquela correria, todos sempre falavam que ela dava tiro de sal, não sabíamos se procedia, nem o que era exatamente, mas não ficamos para saber. Corremos para pular o muro, todas conseguiram, e eu como era muito gordinha fiquei para trás, e também não estava conseguindo pular, minha irmã como era magra e ágil, voltou e pulo novamente para dentro e me ajudou, foi uma luta, mas conseguimos fugir. Era muita risada que dávamos.
Em dezembro de 2016, fiz uma postagem falando da casa mal-assombrada no facebook. Foram muitos comentários. Selecionei alguns:
Dona Nair Borgo da Vitória: “Linda, é uma pena que se perdeu, havia atrás dela um pequeno lago e não tinha estas taquaras do reino, havia caqui, jabuticaba e muitas laranjas, fui muitas vezes lá”.
Mária Amália Klippel Andrade de Souza: “Eu tive o prazer de entrar nesta casa quando os donos vinham nos fins de semana, era muito linda”.
Maysa da Penha Lube: “Roubamos muitas mexericas”.
Andersom C. Marques: “Uma vez estávamos vasculhando os cômodos da casa e encontramos uma caixa com um vestido de noiva, não sei o que aconteceu mais ouvimos um barulho como se tivesse caído algo do telhado, lembro que nesse dia atravessei a mata mais rápido que o Usain Bolt consegue fazer os 100m rasos”!
Muitas histórias, aventuras, e muito medo. Voltamos mais vezes, sempre acontecia uma aventura diferente. Um dia vi o papel com aquele desenho, não dava para saber exatamente o que era, fizemos várias interpretações dele, e o desenho está comigo até hoje, como um tesouro da infância, tenho vários, mas ele tem um significado coletivo…
A alegria de ser criança,
É acreditar que tudo é possível,
É cantar, dançar e brincar,
E nunca…
Nunca mesmo,
Deixar de sonhar.
Giovana Schneider