sexta-feira,
03 de janeiro de 2025

Artigo/Opinião

ASSIM COMEÇOU MARECHAL FLORIANO/ES

Giovana Schneider: Escritora, poeta, contista e colunista. Ocupante da cadeira de nº 06 da AFHAL (Academia Florianense de História, Artes e Letras “Flores Passinato Kuster”).

 

Giovana Schneider

 

NAQUELE TEMPO…

 

Aqui vou relatar um pouco de como tudo começou. É uma grande, e bonita história. Como costumo falar: Um povo com história não pode ser um povo sem memória.

 

Vila do Braço do Sul – 1862/2022 = 160 anos de História

 

 

Mapa da Vila do Braço do Sul em 1862, conforme relato de João Kuster, filho do imigrante suíço Jacob Kuster, que chegou em 1862. Segundo João, seu pai relatou: “Chegamos na Vila, onde tivemos que atravessar uma ponte com nossas mudanças. Haviam pequenos barracões, com as paredes e coberturas de palhas. Ficamos muitos dias neste local, esperando a construção de nossa casa. 

 

A Vila Braço do Sul teve duas famílias pioneiras que adquiriram lotes. Onde cultivaram café e milho. Implantaram escolas, comércio, carpinteiros e marceneiros. Podemos destacar a família do suíço Johann Kuster, que chegou no final do ano de 1862, e a Rupf em janeiro de 1860. Dois anos depois já haviam adquirido lotes no Braço do Sul.

 

Lotes que formaram a Vila do Braço do Sul / Marechal Floriano

 

Somente em 1862 começou a habitação nesta região. Embora muitos imigrantes chegaram em Santa Izabel, no final de 1859, onde ficaram hospedados em barracões, trabalhando na construção de estradas, pontes e até ajudando outros imigrantes na construção de suas casas.

 

Sobre os brasileiros, sabemos muito pouco.  A maioria veio de Viana, mas temos brasileiros que vieram do Ceará.  Soldados Voluntários da Pátria que serviram a Guerra do Paraguai, quando retornavam recebiam um prêmio. Muitos vieram para a Colônia.

 

Quantos aos estrangeiros a maioria eram agricultores. Também vieram ferreiros, marceneiros, cervejeiros, pintor, alfaiate, comerciantes, carpinteiros, etc.

 

Sobre escravos, o imigrante não podia ter escravos. Porém sabemos que na Estrada de Costa Pereira haviam muitas famílias descendentes de escravos. 

 

O jornal O Espirito Santense de 06/08/1874, onde o Voluntário da Pátria Manoel Pereira da Victória requer um lote no Braço do Sul.

 

 

Voluntário da Pátria era o cidadão que partiram para a Guerra do Paraguai. 

 

Acervo; APEES 

 

 

Vila do Braço do Sul

 

Até 1900 era uma pequena vila com 06 casas, pertencente à família Endlich, situadas nas margens direita e esquerda, Rio Braço do Sul. Registros fotográficos só temos de uma foto de 1917, sobre uma enchente, tirado pelo imigrante Johan Endlich. Em 1940 o pintor Ricardo, baseado na fotografia da enchente de 1917. Na foto podemos vir duas vilas. A da esquerda onde tudo começou em 1862, ampliada em 1890 com a chegada da família Endlich. As construções são dois comércios e casas, inclusive o sobrado. No lado direito tudo que foi construído pelo Bellarmino entre 1913 a 1917. Ainda podemos ver bem no canto a residência do Vitto Travaglia que em 1927, vendeu para José Henrique Pereira. 

 

Foto: Acervo Jair Littig

 

Grandes cafezais, plantações de milho, pastos, lagoas e rios, córregos e brejos e matas altas, que na metade do século XIX com nome de Braço do Sul, hoje são ruas, bairros, avenidas e praças da cidade de Marechal Floriano.

 

Ainda nos primeiros dez anos do século XX, a Vila de Marechal não tinha mais que 30 Habitantes.

 

A foto da Praça José Henrique Pereira em 1994. No século XIX era o lote de nº 253, pertencente ao suíço Johann Kuster.

 

Até 1898 este local era um alagado, com a construção da ferrovia e a estação, toda esta área foi aterrada.

 

João Kuster filho de Jacob, relatou, que seu pai gostava de pescar neste local, pois havia uma grande lagoa. Segundo João o rio Braço do Sul tinha muitas curvas, com isso no período da chuva, inundava tudo.

 

Família do Johann Jacob Kuster

 

 Acervo Jair Littig

 

 

Cotidiano na Vila do Braço do Sul

 

Os Kuster tinham uma cultura mais elevada. Ulrich o mais velho foi um homem muito culto, tocava violino, gostava de ler, tinha uma boa biblioteca, sendo seu escritor preferido Shakespeare. Além do alemão, ainda falava o francês. Aperfeiçoou o português, tinha uma bela caligrafia.

 

Sobre música suas netas Érica Schneider e Catharina Hulle, relataram” Ulrich tocava violino, Jacob bandolim e Adolf flauta. Nas festas luteranas se apresentavam como músicos”. Johann I, filho de Jacob dizia que seu pai e seus tios tocavam na Igreja Luterana de Campinho, nas festas, natal e ano novo. Segundo Érica seu avô fazia um tipo de sarau na sua residência, com músicas e cantorias. Com a morte da sua primeira esposa em 1886, ficou deprimido, não tendo mais festas em sua casa.

 

Exposição Provincial –  fevereiro/1889.

 

Matéria no Jornal Província do Espírito Santo de 05/05/1889

 

Foi uma amostra organizada pela Sociedade Espírito – Santense de Imigração, com objetivo de angariar produtos produzidos no Estado. Para serem enviados à Exposição Universal de Paris.  Na exposição continha fotos da casa do Ulrich, tirados pelo seu compadre, o grande fotografo Albert Richard Dietze e do seu cunhado Peter Wayandt.

 

A escritora Almerinda da Silva Lopes, no seu livro “Albert Richard Dietze – Um Artista – Fotógrafo Alemão no Brasil”, dá mais detalhes sobre esta exposição. 

 

Evidências APEES – Acervo Jair Littig

 

Família Rupf

 

 

Familia Rupf, da esquerda para direita:  Adolf, Eduard, Hermann, Olga, Edmund, Ulrich e Oswald. Sentados Emil e Johanne Therese.

 

Foto acervo família Rupf.

 

 

Documento em homenagem aos 160 anos da fundação da Vila do Braço do Sul, conforme relatório do Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Commércio e Obras Públicas Pedro de Alcantara Bellegarde.

 

Aviso de 19 de novembro de 1862. Adalbert Jahn

 

Evidências – Arquivo Nacional – RJ 

 

História Esquecida

 

Em novembro de 2022 vamos comemorar 160 anos da fundação da vila do Braço do Sul.  Hoje esta história é totalmente desconhecida. Na cidade de Marechal Floriano restou poucas evidências desta época. Temos a casa do agente de estação e a estação ferroviária que iniciaram a construções em 1898 e o sobrado já desfigurado da família Lovatti, construído em 1890. Sobre os primeiros imigrantes e brasileiros, não temos uma rua ou avenida que leve seus nomes. No antigo cemitério da Estrada do Batatal ainda temos o túmulo da Anna Rupf e do Ulrich Kuster.

 

Em 2012 quando completou 150 anos, levei documentos para prefeitura para fazer uma divulgação histórica, também no jornal, mas disseram que não tinha relevância.

 

Sugeri que no início da Rua Emilio Gustavo Hülle colocasse uma placa, pois foi neste local que tudo começou com a construção de barracão para acolher os primeiros imigrantes. Este local seria uma espécie de marco zero da cidade.

 

Espero que no futuro um florianense concretize estas ideias. Palavras do Jair Littig.

 

 

Foto tirada antes de 1910. O sobrado teve uma reforma em 1910, pela viúva Anna Degen, esposa do Philipp Endlich. Foto original pertencia a dona Ercilia Travaglia Cardoso, que faleceu em 2021, com 98 anos. 

 

Aqui tem Histórias…

 

Em Marechal Floriano, residem muitas histórias para ainda serem contadas. Conhecemos somente um pouco. O que não podemos, é deixar que elas se percam no tempo. Aqui, somente fiz um pequeno resumo. No meu blog: “Cada um de nós compõe a sua história”, vai estar mais detalhada, com fotos e documentos. Afinal, a história não é pequena, são 160 anos. E outro livro já está a caminho. Temos também registros de brasileiros que residiam nesta região. Alguns tinham pequenos lotes de terras, outros trabalhavam como meeiros. A maioria são imigrantes. No geral os imigrantes deixavam sua terra natal no intuito de melhorar de vida, com a esperança de conseguir nesta terra estranha uma propriedade para lavorar, e desta forma garantir a sua sobrevivência e a dos que eram de sua responsabilidade. Este era o desejo deles, e o que os levava a imigrar. Mas eles também faziam parte de um projeto político brasileiro. Já é outra história. Nesses conjuntos de histórias, temos muitas, algumas bonitas e outras tristes. Todas juntas, e misturadas. Quais fatos e lembranças são importantes para compor tudo? Serão somente as pessoas? Serão somente os fatos? Ou serão ambos? São ambos, pois deles precisamos, para compor uma história.  

 

IMIGRANTES

 

Imigrantes da vida

Que para onde forem levem sempre o Amor

Partem, não sabendo o que vão encontrar

Enfrentam a vida e o medo

Vão para não mais voltar

As suas causas são muitas

Do resultado desta jornada

O que esperam

É o acolhimento encontrar

Imigrantes

Muitas batalhas vão enfrentar

Mesmo sabendo

Que há o mar para atravessar

Sendo peregrino em uma terra estranha

Mas

O sonho de uma vida melhor

Faz o medo afastar

Imigrantes. 

Giovana Schneider

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site, e nos reservamos o direito de excluir. Não serão aceitos comentários que envolvam crimes de calúnia, ofensa, falsidade ideológica, multiplicidade de nomes para um mesmo IP ou invasão de privacidade pessoal / familiar a qualquer pessoa.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Confira mais Notícias

Artigo/Opinião

Marechal Floriano: Uma obra cultural Florianense

Artigo/Opinião

Em Marechal Floriano, sempre existiu uma conexão com as bandas que os jovens costumavam criar, há uma tradição que remonta a décadas anteriores

Artigo/Opinião

Histórias do Comércio – Indústria e Serviços de Marechal Floriano

Artigo/Opinião

Celebração do Dia da Reforma e dos 200 anos da Presença Luterana no Brasil — Domingos Martins

Artigo/Opinião

Bradesco — A primeira Instituição Financeira se despede de Marechal Floriano

Artigo/Opinião

Coluna Pinga-fogo: Reta final da campanha eleitoral histórica em Marechal Floriano

Artigo/Opinião

“Memórias de Marechal Floriano”: Genoveva Marculano Gama Filha, carinhosamente chamada de Dona Santa

Artigo/Opinião

Coluna Pinga-fogo: Aberta a temporada de caça ao eleitor em Marechal, e Justiça Eleitoral entra em campo para arbitrar o jogo