Giovana Schneider: Escritora, poeta, contista e colunista. Ocupante da cadeira de nº 06 da AFHAL (Academia Florianense de História, Artes e Letras “Flores Passinato Kuster”). |
Giovana Schneider
NAQUELE TEMPO…
Aqui vou relatar um pouco de como tudo começou. É uma grande, e bonita história. Como costumo falar: Um povo com história não pode ser um povo sem memória.
Vila do Braço do Sul – 1862/2022 = 160 anos de História
Mapa da Vila do Braço do Sul em 1862, conforme relato de João Kuster, filho do imigrante suíço Jacob Kuster, que chegou em 1862. Segundo João, seu pai relatou: “Chegamos na Vila, onde tivemos que atravessar uma ponte com nossas mudanças. Haviam pequenos barracões, com as paredes e coberturas de palhas. Ficamos muitos dias neste local, esperando a construção de nossa casa.
A Vila Braço do Sul teve duas famílias pioneiras que adquiriram lotes. Onde cultivaram café e milho. Implantaram escolas, comércio, carpinteiros e marceneiros. Podemos destacar a família do suíço Johann Kuster, que chegou no final do ano de 1862, e a Rupf em janeiro de 1860. Dois anos depois já haviam adquirido lotes no Braço do Sul.
Lotes que formaram a Vila do Braço do Sul / Marechal Floriano
Somente em 1862 começou a habitação nesta região. Embora muitos imigrantes chegaram em Santa Izabel, no final de 1859, onde ficaram hospedados em barracões, trabalhando na construção de estradas, pontes e até ajudando outros imigrantes na construção de suas casas.
Sobre os brasileiros, sabemos muito pouco. A maioria veio de Viana, mas temos brasileiros que vieram do Ceará. Soldados Voluntários da Pátria que serviram a Guerra do Paraguai, quando retornavam recebiam um prêmio. Muitos vieram para a Colônia.
Quantos aos estrangeiros a maioria eram agricultores. Também vieram ferreiros, marceneiros, cervejeiros, pintor, alfaiate, comerciantes, carpinteiros, etc.
Sobre escravos, o imigrante não podia ter escravos. Porém sabemos que na Estrada de Costa Pereira haviam muitas famílias descendentes de escravos.
O jornal O Espirito Santense de 06/08/1874, onde o Voluntário da Pátria Manoel Pereira da Victória requer um lote no Braço do Sul.
Voluntário da Pátria era o cidadão que partiram para a Guerra do Paraguai.
Acervo; APEES
Vila do Braço do Sul
Até 1900 era uma pequena vila com 06 casas, pertencente à família Endlich, situadas nas margens direita e esquerda, Rio Braço do Sul. Registros fotográficos só temos de uma foto de 1917, sobre uma enchente, tirado pelo imigrante Johan Endlich. Em 1940 o pintor Ricardo, baseado na fotografia da enchente de 1917. Na foto podemos vir duas vilas. A da esquerda onde tudo começou em 1862, ampliada em 1890 com a chegada da família Endlich. As construções são dois comércios e casas, inclusive o sobrado. No lado direito tudo que foi construído pelo Bellarmino entre 1913 a 1917. Ainda podemos ver bem no canto a residência do Vitto Travaglia que em 1927, vendeu para José Henrique Pereira.
Foto: Acervo Jair Littig |
Grandes cafezais, plantações de milho, pastos, lagoas e rios, córregos e brejos e matas altas, que na metade do século XIX com nome de Braço do Sul, hoje são ruas, bairros, avenidas e praças da cidade de Marechal Floriano.
Ainda nos primeiros dez anos do século XX, a Vila de Marechal não tinha mais que 30 Habitantes.
A foto da Praça José Henrique Pereira em 1994. No século XIX era o lote de nº 253, pertencente ao suíço Johann Kuster.
Até 1898 este local era um alagado, com a construção da ferrovia e a estação, toda esta área foi aterrada.
João Kuster filho de Jacob, relatou, que seu pai gostava de pescar neste local, pois havia uma grande lagoa. Segundo João o rio Braço do Sul tinha muitas curvas, com isso no período da chuva, inundava tudo.
Família do Johann Jacob Kuster
Acervo Jair Littig
Cotidiano na Vila do Braço do Sul
Os Kuster tinham uma cultura mais elevada. Ulrich o mais velho foi um homem muito culto, tocava violino, gostava de ler, tinha uma boa biblioteca, sendo seu escritor preferido Shakespeare. Além do alemão, ainda falava o francês. Aperfeiçoou o português, tinha uma bela caligrafia.
Sobre música suas netas Érica Schneider e Catharina Hulle, relataram” Ulrich tocava violino, Jacob bandolim e Adolf flauta. Nas festas luteranas se apresentavam como músicos”. Johann I, filho de Jacob dizia que seu pai e seus tios tocavam na Igreja Luterana de Campinho, nas festas, natal e ano novo. Segundo Érica seu avô fazia um tipo de sarau na sua residência, com músicas e cantorias. Com a morte da sua primeira esposa em 1886, ficou deprimido, não tendo mais festas em sua casa.
Exposição Provincial – fevereiro/1889.
Matéria no Jornal Província do Espírito Santo de 05/05/1889 |
Foi uma amostra organizada pela Sociedade Espírito – Santense de Imigração, com objetivo de angariar produtos produzidos no Estado. Para serem enviados à Exposição Universal de Paris. Na exposição continha fotos da casa do Ulrich, tirados pelo seu compadre, o grande fotografo Albert Richard Dietze e do seu cunhado Peter Wayandt.
A escritora Almerinda da Silva Lopes, no seu livro “Albert Richard Dietze – Um Artista – Fotógrafo Alemão no Brasil”, dá mais detalhes sobre esta exposição.
Evidências APEES – Acervo Jair Littig
Família Rupf
Familia Rupf, da esquerda para direita: Adolf, Eduard, Hermann, Olga, Edmund, Ulrich e Oswald. Sentados Emil e Johanne Therese.
Foto acervo família Rupf.
Documento em homenagem aos 160 anos da fundação da Vila do Braço do Sul, conforme relatório do Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Commércio e Obras Públicas Pedro de Alcantara Bellegarde.
Aviso de 19 de novembro de 1862. Adalbert Jahn
Evidências – Arquivo Nacional – RJ
História Esquecida
Em novembro de 2022 vamos comemorar 160 anos da fundação da vila do Braço do Sul. Hoje esta história é totalmente desconhecida. Na cidade de Marechal Floriano restou poucas evidências desta época. Temos a casa do agente de estação e a estação ferroviária que iniciaram a construções em 1898 e o sobrado já desfigurado da família Lovatti, construído em 1890. Sobre os primeiros imigrantes e brasileiros, não temos uma rua ou avenida que leve seus nomes. No antigo cemitério da Estrada do Batatal ainda temos o túmulo da Anna Rupf e do Ulrich Kuster.
Em 2012 quando completou 150 anos, levei documentos para prefeitura para fazer uma divulgação histórica, também no jornal, mas disseram que não tinha relevância.
Sugeri que no início da Rua Emilio Gustavo Hülle colocasse uma placa, pois foi neste local que tudo começou com a construção de barracão para acolher os primeiros imigrantes. Este local seria uma espécie de marco zero da cidade.
Espero que no futuro um florianense concretize estas ideias. Palavras do Jair Littig.
Foto tirada antes de 1910. O sobrado teve uma reforma em 1910, pela viúva Anna Degen, esposa do Philipp Endlich. Foto original pertencia a dona Ercilia Travaglia Cardoso, que faleceu em 2021, com 98 anos.
Aqui tem Histórias…
Em Marechal Floriano, residem muitas histórias para ainda serem contadas. Conhecemos somente um pouco. O que não podemos, é deixar que elas se percam no tempo. Aqui, somente fiz um pequeno resumo. No meu blog: “Cada um de nós compõe a sua história”, vai estar mais detalhada, com fotos e documentos. Afinal, a história não é pequena, são 160 anos. E outro livro já está a caminho. Temos também registros de brasileiros que residiam nesta região. Alguns tinham pequenos lotes de terras, outros trabalhavam como meeiros. A maioria são imigrantes. No geral os imigrantes deixavam sua terra natal no intuito de melhorar de vida, com a esperança de conseguir nesta terra estranha uma propriedade para lavorar, e desta forma garantir a sua sobrevivência e a dos que eram de sua responsabilidade. Este era o desejo deles, e o que os levava a imigrar. Mas eles também faziam parte de um projeto político brasileiro. Já é outra história. Nesses conjuntos de histórias, temos muitas, algumas bonitas e outras tristes. Todas juntas, e misturadas. Quais fatos e lembranças são importantes para compor tudo? Serão somente as pessoas? Serão somente os fatos? Ou serão ambos? São ambos, pois deles precisamos, para compor uma história.
IMIGRANTES
Imigrantes da vida
Que para onde forem levem sempre o Amor
Partem, não sabendo o que vão encontrar
Enfrentam a vida e o medo
Vão para não mais voltar
As suas causas são muitas
Do resultado desta jornada
O que esperam
É o acolhimento encontrar
Imigrantes
Muitas batalhas vão enfrentar
Mesmo sabendo
Que há o mar para atravessar
Sendo peregrino em uma terra estranha
Mas
O sonho de uma vida melhor
Faz o medo afastar
Imigrantes.
Giovana Schneider