Giovana Schneider: Escritora, poeta, contista e colunista. Ocupante da cadeira de nº 06 da AFHAL (Academia Florianense de História, Artes e Letras “Flores Passinato Kuster”). |
Giovana Schneider
“Um Presente da Natureza”
Cattelya warneri – Moisés Bravim |
A cidade de Marechal Floriano, no Espírito Santo, está localizada na região serrana do Espirito Santo, em uma altitude em torno de 544 metros acima do mar, com remanescente da Mata Atlântica. O clima é tropical de altitude, com uma temperatura amena quase o ano inteiro. Em Marechal Floriano existe uma grande variedade de orquídeas, o que dá a cidade o título de “Cidade das Orquídeas”. No entanto, além das orquídeas ainda são encontradas outras espécies de plantas, com bromélias e algumas árvores que estão em extinção como o jacarandá, jequitibá, pinhos e canelas. A CATTLEYA WARNERI é a orquídea típica da região.
Catelleyas Warneri – Quintal da Leda Bravim, em Marechal Floriano, cultivadas pelo seu filho o orquidófilo, apaixonado por orquídeas Moisés Bravim.
O TÍTULO
Para se falar um pouco deste título, temos que lembrar de muitas pessoas, e dentre elas, como disse Jair Littig, do sr. Euclides Francisco Lima, um apaixonado por orquídeas, e também comerciante. Não esquecer da floricultura, são muitas histórias.
Eu lembro de quando era criança, a gente saia para dar umas voltas, e sempre retornávamos com algumas mudinhas para casa. Eram samambaias, orquídeas, rosas, lírios, cravos e outras que agora não estou recordando dos nomes. Todas lindas. Algumas pessoas comercializavam.
JARDINS DE MARECHAL FLORIANO
Por Jair Littig
Revendo as histórias da floricultura em Marechal Floriano. Uns dos primeiros registros que temos, foram os jardins de rosas de Josefina Rodrigues, em 1911. Pouco se sabe desta senhora. Em 1911 já residia na vila. Uma senhora de pequena estatura, gostava de andar com um lenço no pescoço. Quando conheci já tinha cabelos brancos. Diziam que era carioca. Faleceu no final dos anos sessenta. Outra senhora que tinha plantações de rosas, foi a esposa do senhor Antenor Braga, dona Mariquinha. Ainda conheci este jardim. Minha tia Frida Rupf, gostava de cultivar gérberas vermelhas e cravos amarelos. Também minha tia Clara, seu filho Belita, ainda hoje conserva estas roseiras. Jornal Diário da Manhã de 07/04/1911, tem uma reportagem sobre uma excursão pelo trem de passageiros, onde visitaram as estações de Germânia, Marechal, Araguaia e Matilde. Na visita a vila, é mencionado o nome de Josefina.
Em Marechal Floriano temos:
ALGUNS CONHECEDORES DE ORQUÍDEAS
Wandelino Schunk, foi pioneiro na comercialização de orquídeas no Espírito Santo. Era uma pessoa muito conhecida pelos colecionadores de orquídeas do Brasil. Nos anos 60, foi tema de reportagem de uma revista capixaba. Faleceu em 02 de junho de 1969.
Família Entringer, principalmente o Augostinho, que comprava as labiatas (hoje tem o nome mais charmoso cattleya). Seu veículo era uma bicicleta. Segundo ele foi até São Paulo pedalando.
Hamiltom Linz, grande personagem de Marechal Floriano. Rotulado como cachaceiro. Historiador, tinha vasto conhecimentos de assuntos políticos, econômicos. Era uma fábrica de cultura. Escrevia cartas, como a Fernanda Montenegro no filme central do Brasil, para pessoas analfabetas. Até escreveu para o presidente, mas isso já é outra história. Tinha contato com a Sociedade Orquidófila de São Paulo, onde enviava vários tipos de orquídeas, inclusive, muitas da região.
Erico de Freitas Machado, fundador e primeiro presidente da Sociedade Capixaba de Orquidófilos, em 1959. Grande pesquisador, comprou um terreno em Marechal Floriano, onde foi cultivar e estudar tudo sobre orquídeas.
Roberto Brabo Saletto, no final da década de sessenta comprou um sitio em Marechal Floriano, que pertencia a família do interventor Moacir Ubirajara Moreira da Silva. Na época era casado com Marinete Peixinho. Reformou o local, deu o nome de granja Romari, em homenagem as iniciais de seu nome e da sua esposa. Ela era apaixonada por orquídeas. Tinha uma grande coleção. Na época contratou Alvino Schunk, experiente neste ramo. Alvino era casado com Julieta, filha mais nova de Wandelino Schunk. Saletto faleceu em 27 de outubro de 1973. O local foi vendido para a fábrica de Chocolates Vitória. Foi a falência e tudo acabou.
Euclides Francisco Lima
Natural da Bahia. No início dos anos sessenta já era conhecido em Marechal Floriano, pois gostava de futebol e tinha um time com o pessoal do porto de Vitória. Casou com Elisa Catharina, filha de Wandelino Schunk e Catharina Entringer. Teve uma filha, Fatima Helena Schunk Lima. Quando veio para Marechal, tinha uma pequena fábrica de colchões, perto da subida da igreja católica. Mais tarde comprou um terreno, e construiu sua residência, onde vendia orquídeas.
Apaixonado por orquídeas. Foi dele a ideia de transformar a cidade de Marechal Floriano na “Cidade das Orquídeas”
Teve um jantar comemorativo no Restaurante Braço Sul, do sr. Baraquiel, com gente de Vitória e Vila Velha. No final teve um livro de ouro. O seu Euclides prometeu fazer todos os anos uma exposição de orquídeas na cidade.
Acervo Jair Littig |
Na Praça José Henrique Pereira, em Marechal Floriano — 1975. Aquela barraca no centro, era o local que o sr. Euclides vendia, e fazia exposição de suas orquídeas.
Esta exposição de Orquídeas aconteceu na década de 70, organizada pelo sr. Euclides. Teve eleição de Rainha e Princesa. Com a presença de autoridades locais, colecionadores de orquídeas e da população em geral.
Rainha da Orquídea: Fatima Helena Schunk Lima. Princesa da Orquídea: Selma de Medeiros. Ao lado o senhor Euclides, atrás o senhor Ary Ribeiro da Silva.
As fotos foram cedidas, já tem algum tempo por Fatima Helena Schunk Lima Souza, filha do sr. Euclides. Ela já é falecida. As fotos foram feitas pelo fotógrafo da época “João do Foto”, assim a Fátima me falou quando repassou as imagens.
Esta foto já é da década de 80. Sr. Florentino Schneider, o papai, e o sr. Euclides, numa exposição de orquídeas.
“LINGUAGEM DAS ORQUIDEAS”
Segundo uma pesquisa publicada na revista Nature, em 2007, as orquídeas provavelmente coexistiram com os dinossauros. Hoje elas estão em todos os continentes, exceto na Antártida, predominando as áreas tropicais. Crescem sobre as árvores, usando-as como apoio para buscar luz, por isso exigem um cultivo delicado. Esta flor é considerada um símbolo da fertilidade e, por sua beleza, também representa a perfeição e a pureza espiritual. Por isso, já foi usada para afastar negatividade na época da China antiga. Com suas características e simbolismo, a Orquídea é um presente muito especial e sofisticado para oferecer às mães, esposas, avós ou uma amiga querida.
Cattleya guttata Lindl., se encontra no quintal de Oberdan José Pereira, em Marechal Floriano. — Esta peguei num pasto em Linhares, apenas um pedacinho q o boi não havia comido. Ufa. É uma planta muito admirada pela beleza. Ocorre na região costeira de Santa Catarina a Pernambuco. No ES os registros são em sua maioria para municípios costeiros, mas chega aos do interior, como Alegre, Santa Teresa. Não há registro em Coleções para DM e MF. Na categoria de ameaçadas se encontra em Vulnerável. — Finalizou.
Conheça mais sobre a "Cattleya warneri"
Cattleya warneri – Moisés Bravim |
História
Desde a colonização estrangeira do século passado, sobretudo de alemães e italianos, que penetraram pelo interior do Espírito Santo buscando as regiões altas, à procura de terras e clima mais ameno, a Cattleya warneri passou a ser ornamento em residências.
Posteriormente, com o advento da estrada de ferro, passando pelas localidades e trazendo pessoas de outros estados e mesmo de outros países, interessadas no cultivo das orquídeas, ela transformou-se em objeto procurado por proprietários de floriculturas ou colecionadores. Adquiriu um valor comercial e passou a interessar a determinados grupos que, por desejo de obter lucros ou por ter mais sensibilidade para o encanto da natureza, iniciaram a procura da planta. Surgiram, então os aficcionados, que a guardavam para si próprios ou para comercializá-la, e os mateiros ou tiradores, que ganhavam para colhê-la.
Atualmente verificam-se algumas alterações quanto aos conhecimentos orquidófilos conseguidos, o esmero nas coleções e a racionalização da colheita, hoje proibida e sob fiscalização dos órgãos públicos próprios, além de novos métodos de cultivo e de negócio. (…) Fonte: Orquídeas ES.
C. warneri albescens 'Ricardo Bells' – Moisés Bravim |
O que sinto falta aqui em Marechal Floriano tendo o título de “Cidade das Orquídeas”, é ter mais exposição delas na praça e em cada comércio, talvez, até em outros lugares. Ter mais destaque para Catlleya Warneri, por ser a que é símbolo (foi oficializada pela Lei Municipal Nº 576, de 17 de dezembro de 2005), mas colocar outras também, já que tem variedades. Não vou dizer que não tem nenhuma, tem sim algumas, mas o que seria interessante, era ter muitas, que quando um visitante chegasse aqui, já avistasse de alguma forma, elas chamando a atenção de todos.
Falar de orquídeas é um prazer, imensurável, pois já é uma paixão antiga.
Não citei orquidários conhecidos, que temos, pois estava aqui falando de como tudo começou, lógico que citarei em uma outra oportunidade.
ORQUÍDEA
Que planta é essa
Sua variedade é grande
Umas vivem em troncos de árvores
Outras se desenvolvem na terra
Algumas até nascem em rochas
De exuberante beleza
Bem tranquilas de cultivar
Que planta é essa
Que dão flores vistosas
Admirada e disputada
Por colecionadores
E até por amadores
Que planta é essa
Apaixonante
E de um perfume inebriante.
Giovana Schneider