quinta-feira,
21 de novembro de 2024

Pelo futuro do Jucu, um olhar sobre o Rio Marinho

“Palestra resgatou a trajetória da sociedade capixaba negligenciando o cuidado com cursos de água essenciais para a maioria de sua população”.

Redação

Em palestra “alerta” a alunos de ensino médio, dentro da programação da Semana de Proteção ao Rio Doce, a ambientalista Renata Bomfim explicou a importância do Rio Jucu para a sociedade capixaba e como o futuro dele pode estar ameaçado. A semana é organizada pela Comissão Parlamentar Interestadual de Estudos para o Desenvolvimento Sustentável da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (Cipe Rio Doce).

Com três tópicos – história, mitos e desafios contemporâneos – Renata destacou que o rio com 169,5 km de extensão, apesar de ser responsável pelo abastecimento de 60% da população da Região Metropolitana de Vitória, caminha para o mesmo destino do Rio Marinho. Curso de água importante para o desenvolvimento capixaba desde o século 18, o navegável rio que ficava entre Vila Velha e Cariacica desapareceu. 

A palestrante é presidente do Instituto Ambiental Reluz, responsável pela Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) de mesmo nome em Marechal Floriano, cortada pelo Rio Jucu. O Reluz desenvolve diversos trabalhos de conscientização pela preservação ambiental, combate ao tráfico de animais silvestres, criação de outras RPPNs, entre outras ações educativas.

Renata fez um resgate da extrema importância do Marinho, desde o período colonial. Com cerca de 80 quilômetros de extensão, o rio antes usado para escoamento de produtos, pesca, lazer e abastecimento, viu sua degradação acelerada no século 20. Com o crescimento da urbanização, o aumento do êxodo rural e o avanço da industrialização, grande parte foi aterrada. Com mais pressão hídrica e poluição, nem mesmo estação de bombeamento conseguiu dar conta e, na década de 1970, procurou-se alternativa. 

Com a impossibilidade do Rio Marinho, a captação para abastecer passou a  ser feita no Rio Jucu. Citando texto da década de 1980 do Instituto Jones Santos Neves (IJSN) “a região conta com menos de 2% da cobertura vegetal”, Renata lembrou que a empresa Vale começou a sua história ali naquela região e que “nossas florestas viraram carvão para indústria e dormentes para estrada de ferro”.

“Precisamos conhecer a história de destruição do Rio Marinho para tentar evitar a do Jucu”. Para a ativista, a sociedade precisa de uma nova narrativa, abrindo mão das alegorias que reforçam o destino “apocalíptico” da humanidade, desenvolvendo um pensamento decolonial e aprendendo com a “proposta indígena” sustentável de que há alternativa. 

“Pensar para a coletividade, para o diálogo, para a convivência. Porque o pensamento colonial faz entre nós surgir uns valores que nos levam a guerrear muitas vezes, a sermos competidores, a sermos consumidores”, lamentou.

Ela explicou que há cinco anos não vê uma enchente do rio na área da reserva. Destacou ainda que a bacia de 2.221 km² é um mundo de oportunidades, com vários afluentes, além de hidrelétricas. Tendo várias Unidades de Conservação (UC), o Jucu tem importância turística. Mas a realidade é de um rio que sofre cada vez mais com a seca, é recebedor de esgotamento sanitário e impactado por agricultura não sustentável e de muito agrotóxico. Além da cena já comum de dejetos em sua foz.

Ao final da palestra, a visão de esperança de que mostrar a história em forma de alerta às novas gerações pode conscientizar essas de que “está nas nossas mãos, como coletividade, construir alternativas”, – sem abrir mão da existência de outro rio. Alguns alunos interessados no debate fizeram perguntas sobre como a sociedade pode ajudar, se o Estado realmente contribui com as ações de pessoas e entidades envolvidas com a causa. 

Renata Bomfim dará a mesma palestra na manhã desta quinta-feira (21), a partir das 9 horas.

Semana 

A Semana de Proteção ao Rio Doce vai até sexta-feira (22), no Auditório Augusto Ruschi. A iniciativa é da Cipe Rio Doce, vinculada à 2ª Secretaria da Ales. Formada por cinco deputados estaduais capixabas e outros cinco mineiros, a Cipe atualmente é presidida pela deputada Janete de Sá (PSB).

Dia 21.03 (quinta-feira)
9h – Tema: “Rio Jucu: mitos, histórias e desafios contemporâneos”
Palestrante: Renata Bomfim – Ambientalista e presidente do Instituto Ambiental Reluz
15h – Tema: “O Caminho do Lixo”
Palestrante: Rafael Braga Vieira – Ambientalista do Projeto Pegada

22.03 (sexta-feira)
9h – Tema: “Os rios e o fotógrafo de natureza.”
Palestrante: Leonardo Merçon – Fotógrafo de natureza e documentarista, mestre em Conservação da Biodiversidade pelo IPÊ/ESCAS 

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