quinta-feira,
21 de novembro de 2024

Estudo revela hábitos de formigas desconhecidos pela ciência e espécies em risco de extinção

Análise da coleção de entomologia da Reserva Natural Vale, em Linhares/ES aponta existência de espécies de formigas nunca coletadas no Espírito Santo; registros inéditos demonstram a importância das coleções biológicas institucionais para se conhecer a fauna local

Redação

A diversidade de formigas do Espírito Santo é pouco conhecida pela ciência e um olhar bem de perto nas coleções entomológicas pode trazer muitas revelações aos pesquisadores. Essa é a conclusão de estudo de pesquisadores do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA) e Universidade Estadual de Ohio, Estados Unidos, publicado hoje na revista “Sociobiology”.

Os pesquisadores Ricardo Vicente e Jorge Souza, do INMA, e a pesquisadora Lívia Prado, da Universidade Estadual de Ohio, analisaram a coleção de entomologia da Reserva Natural Vale, em Linhares/ES, e observaram que, entre os exemplares, havia espécies de insetos ainda não registradas para o Espírito Santo e ainda espécies ameaçadas. Ao todo, foram analisadas 143 formigas e identificadas 63 espécies. No material avaliado, foram encontradas espécies cuja organização em castas não era conhecida pelos pesquisadores, como a espécie de formiga Pheidole fimbriata. A organização em castas acontece com os chamados insetos sociais, que vivem em grupos com organização na divisão do trabalho, cooperação no período reprodutivo e participação coletiva nos cuidados com os ovos e os jovens, entre outras características.

 “Em novembro de 2022, eu e Lívia ministramos um curso de coleções biológicas no INMA e, durante o curso, identificamos alguns exemplares de espécies em estado reprodutivo ainda não descritos. Concordamos na importância de divulgarmos os dados da coleção e discutimos, então, como iríamos estruturar o trabalho”, conta Vicente.

Os novos registros contribuem para o conhecimento da fauna capixaba e demonstram a importância das coleções biológicas institucionais. “No material analisado, há espécies ameaçadas pela mudança de paisagem da Mata Atlântica, como a espécie Dinoponera lucida, conhecida como formiga tocandira, e provavelmente suas formas aladas – como são chamados os insetos em fase reprodutiva, que ganham asas -, que ainda não foram descritas. Esses dados demonstram a importância da Reserva Natural Vale e o quanto a realização de estudos sistematizados nessa área podem contribuir para o conhecimento da biodiversidade capixaba”, destaca o pesquisador.

O pesquisador pretende seguir com os estudos a partir do material que integra a coleção da Reserva Natural Vale, contribuindo para o conhecimento da biodiversidade da Mata Atlântica. Essas pesquisas fortalecem as coleções das instituições envolvidas, ampliam o entendimento de processos naturais na área de entomologia – especialidade da biologia que se dedica ao estudo de insetos – e oferecem subsídios para a implementação de políticas de conservação, além de promover a divulgação do conhecimento científico.

O INMA

O INMA é uma instituição federal vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Criado em 2014, o INMA originou-se do Museu de Biologia Prof. Mello Leitão, fundado pelo cientista Augusto Ruschi, Patrono da Ecologia no Brasil. Tem como missão produzir, sintetizar e difundir conhecimento científico, com o propósito de contribuir para a conservação, restauração e uso sustentável da biodiversidade da Mata Atlântica. Atua de forma a ser referência na geração e divulgação de conhecimentos relacionados ao passado, presente e futuro desse bioma.

O INMA guarda importantes coleções científicas – zoológica, botânica e documental. Este valioso acervo está disponível para a comunidade científica e é fundamental para o desenvolvimento da pesquisa nessas áreas. Sua sede ocupa uma área de 77 mil metros quadrados no centro da cidade, tendo importante papel na divulgação da ciência e educação ambiental dos munícipes e da população flutuante que visita o INMA. Anualmente, o INMA recebe cerca de 90 mil visitantes.

Além do parque zoobotânico, o INMA gerencia duas estações biológicas – Estação Biológica de Santa Lúcia e Estação Biológica de São Lourenço – com o objetivo de apoiar as pesquisas de campo de sua equipe e de instituições parceiras. A Estação Biológica de Santa Lúcia, localizada a 8 km da sede do INMA, possui infraestrutura de alojamento e laboratório de campo para a recepção de pesquisadores e estudantes.

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