Giovana Schneider: Escritora, poeta, contista e colunista. Ocupante da cadeira de nº 06 da AFHAL (Academia Florianense de História, Artes e Letras “Flores Passinato Kuster”). |
Giovana Schneider
No livro, Resgatando Memórias de Marechal Floriano, o seu Eliseu aparece, mas como não tinha muitas informações na época, não coloquei toda a relevância de seus feitos. Conversando com o Jair Littig, ele me passou as informações necessárias deste bravo senhor, ele realmente não fugiu da luta, e foi voluntário da guerra bem jovem, enquanto isso…muitos fugiram. Veio morar em Marechal no ano de 1965. No final deste artigo vou postar um poema, que a saudosa professora, e poetiza Nadyr Kuste Lube fez para este Pracinha.
O seu nome: Eliseu de Oliveira
Nasceu em Sapucaia em 10 de março de 1925. Filho de Antônio Lourenço e Ana Maria de Oliveira. Em 31 de março de 1959 casou na igreja luterana de Campinho com Frida Brüske nascida em 08 de janeiro de 1943, filha de Martinho Brüske e Wilhelmine Albertine Auguste Kreitlow.
Eliseu em 1944 prestou juramento a bandeira como voluntario da Marinha, conforme registro do Jornal Diário da Noite de 13/01/1944. Serviu a Marinha num período da segunda Guerra Mundial, onde morreram mais de 1.700 marinheiros. Recebeu a medalha naval de serviço de guerra, duas estrelas. Instituída em 13 de dezembro de 1943 pelo Decreto 6095 a Medalha de Serviços de Guerra era concedida aos militares das Marinhas de Guerra Nacional e Aliadas, da ativa, da reserva ou reformados e aos Oficiais e tripulantes dos navios mercantes nacionais e aliados, que tenham prestado valiosos serviços de guerra quer a bordo dos navios quer em comissões em terra.
Eliseu foi um desconhecido em Marechal Floriano, mas a sua história de vida foi um exemplo, já que nesta época em que prestou juramento a marinha, muitos jovens brasileiros fugiam da guerra. Eliseu foi como voluntário. Faleceu em Marechal Floriano no dia em 10 de fevereiro de 1994.
Palavras do Jair Littig — Em uma das conversas que tive com Eliseu, ele relatou que seu navio foi afundado na costa da África. O único registro de que temos, é do cargueiro Porto Alegre.
Veja a Bibliografia de Roberto Sander, no Wikipédia.
O navio foi completado em maio de 1921 no estaleiro italiano Cantiere Navale Triestino, em Monfalcone, perto de Trieste e pertenceu, até 1933, à operadora Cosulich Line, também de Trieste, sob o nome Gilda. Naquele ano, foi vendido à empresa brasileira Companhia Carbonífera Sul Rio-Grandense e rebatizado Porto Alegre, em homenagem à cidade homônima, capital do estado brasileiro do Rio Grande do Sul. Possuía 5 187 toneladas de arqueação bruta de registro (GRT), 110,3 metros de comprimento, 15 metros de largura e 9,2 metros de calado. Construído em casco de aço, era propelido por um motor a vapor de tripla expansão acoplado a uma hélice, fazendo-o alcançar a velocidade de 10 nós.
O AFUNDAMENTO
Aproximadamente 150 milhas náuticas a sudeste de Port Elizabeth, no Oceano Índico, 03 de novembro de 1942, às 16:42 (Horário da Europa Central; 18:42, horário local), o cargueiro, desarmado e sem escolta, foi atingido por um torpedo disparado U-504, sob as ordens do Capitão-Tenente Hans-Georg Friedrich Poske. Era comandado na ocasião pelo Capitão-de-Longo-Curso José Francisco Pinto de Medeiros, e fazia a rota entre Durban e Cidade do Cabo, em uma região onde nos meses anteriores os aliados tiveram perdas consideravelmente altas. O submarino alemão era de pequeno porte e tinha em sua torreta a pintura de uma cabeça de lobo emergindo das águas, com os dentes pontiagudos bem abertos à mostra. Depois de arriadas as baleeiras, às 17:20 (CET), o "u-boot" ainda disparou um segundo torpedo contra o cargueiro, fazendo-o submergir rapidamente. Em seguida, veio à tona, e um oficial interrogou o comandante brasileiro em inglês, traduzindo as respostas, em alemão, para o Capitão-Tenente Poske. Entre os náufragos do Porto Alegre estavam 11 tripulantes do mercante inglês Laplace (torpedeado em 29 de outubro pelo U-159), resgatados na véspera – quase todos salvos, após quatro dias no mar. As baleeiras do navio brasileiro chegaram em terra no dia 7 de novembro, a 50 milhas de Port Elizabeth. A única fatalidade foi o imediato Francisco Lucas de Azevedo.
Flagrante do Porto Alegre, fotografado pelo submarino alemão instantes antes de ir ao fundo do Oceano Índico. Fonte: U-boat.net |
PRACINHA Nº 687 – Nadyr Kuster Lube
Este homem
Que alta madrugada
Passa discursando
Como um louco
É o mesmo
Que na 2ª guerra
Lutou como um leão
E viu sangue derramado.
Este homem
Que passa despercebido
É o herói,
Que para defender a pátria,
Deixou de ser herói
Para ser um louco
Um desvairado
Este homem,
Este herói,
Hoje não é ninguém.
Hoje não é respeitado.
Este homem
Pela Pátria
Trocou sua vida
De homem
Passou a louco
De louco, passa despercebido.
Pelas ruas e calçadas
Respeite o homem
Respeite o louco
Respeite o resto
Do amor à Pátria,
Que se disfarça
Nesse louco
Nesse homem
Que passa discursando
Pela madrugada
Este homem
Que foi um homem
E de homem
Virou número
Um leão
De leão
Um desgraçado,
Hoje passa
Ora como coronel
Ora como capitão
Numa farda
Disfarçada, esfarrapada,
De boné e capacete na mão
Sem saber o que foi
O que é e o que será,
Este homem, digo eu
Este é o Eliseu…
Seu Eliseu com a sua esposa dona Frida Olga de Oliveira. Eles tiveram sete filhos: três rapazes – Robson, Romério e Elisio. Quatro moças – Greicia, Gladis, Elisabeth e Sueli.
Uma bela história, desconhecida, e isso acontece demais, infelizmente. Como está no poema da dona Nadyr: “…Este homem pela pátria trocou sua vida, de homem passou a louco, de louco, passa despercebido, pelas ruas e calçadas…”. Eu tenho por hábito, observar as pessoas, no ir e vir, fico imaginando as histórias que essas pessoas têm para contar, que com certeza não são poucas. E falando nisso, aqui em Marechal, nós temos muitas, são pessoas que não podemos deixar cair no esquecimento, pois não passaram aqui por acaso, deixaram suas marcas, agora cabe a nós divulgá-las para que se tornem conhecidas.
Giovana Schneider