quarta-feira,
04 de dezembro de 2024

O Pracinha de Marechal Floriano/ES

Giovana Schneider: Escritora, poeta, contista e colunista. Ocupante da cadeira de nº 06 da AFHAL (Academia Florianense de História, Artes e Letras “Flores Passinato Kuster”).

 

Giovana Schneider

 

No livro, Resgatando Memórias de Marechal Floriano, o seu Eliseu aparece, mas como não tinha muitas informações na época, não coloquei toda a relevância de seus feitos. Conversando com o Jair Littig, ele me passou as informações necessárias deste bravo senhor, ele realmente não fugiu da luta, e foi voluntário da guerra bem jovem, enquanto isso…muitos fugiram. Veio morar em Marechal no ano de 1965. No final deste artigo vou postar um poema, que a saudosa professora, e poetiza Nadyr Kuste Lube fez para este Pracinha. 

 

O seu nome: Eliseu de Oliveira

 

 

Nasceu em Sapucaia em 10 de março de 1925. Filho de Antônio Lourenço e Ana Maria de Oliveira. Em 31 de março de 1959 casou na igreja luterana de Campinho com Frida Brüske nascida em 08 de janeiro de 1943, filha de Martinho Brüske e Wilhelmine Albertine Auguste Kreitlow. 

 

 

Eliseu em 1944 prestou juramento a bandeira como voluntario da Marinha, conforme registro do Jornal Diário da Noite de 13/01/1944. Serviu a Marinha num período da segunda Guerra Mundial, onde morreram mais de 1.700 marinheiros. Recebeu a medalha naval de serviço de guerra, duas estrelas. Instituída em 13 de dezembro de 1943 pelo Decreto 6095 a Medalha de Serviços de Guerra era concedida aos militares das Marinhas de Guerra Nacional e Aliadas, da ativa, da reserva ou reformados e aos Oficiais e tripulantes dos navios mercantes nacionais e aliados, que tenham prestado valiosos serviços de guerra quer a bordo dos navios quer em comissões em terra. 

 

 

 

Eliseu foi um desconhecido em Marechal Floriano, mas a sua história de vida foi um exemplo, já que nesta época em que prestou juramento a marinha, muitos jovens brasileiros fugiam da guerra. Eliseu foi como voluntário. Faleceu em Marechal Floriano no dia em 10 de fevereiro de 1994.

 

 

Palavras do Jair LittigEm uma das conversas que tive com Eliseu, ele relatou que seu navio foi afundado na costa da África. O único registro de que temos, é do cargueiro Porto Alegre. 

 

Veja a Bibliografia de Roberto Sander, no Wikipédia.

 

O navio foi completado em maio de 1921 no estaleiro italiano Cantiere Navale Triestino, em Monfalcone, perto de Trieste e pertenceu, até 1933, à operadora Cosulich Line, também de Trieste, sob o nome Gilda. Naquele ano, foi vendido à empresa brasileira Companhia Carbonífera Sul Rio-Grandense e rebatizado Porto Alegre, em homenagem à cidade homônima, capital do estado brasileiro do Rio Grande do Sul. Possuía 5 187 toneladas de arqueação bruta de registro (GRT), 110,3 metros de comprimento, 15 metros de largura e 9,2 metros de calado. Construído em casco de aço, era propelido por um motor a vapor de tripla expansão acoplado a uma hélice, fazendo-o alcançar a velocidade de 10 nós.

 

O AFUNDAMENTO

 

Aproximadamente 150 milhas náuticas a sudeste de Port Elizabeth, no Oceano Índico, 03 de novembro de 1942, às 16:42 (Horário da Europa Central; 18:42, horário local), o cargueiro, desarmado e sem escolta, foi atingido por um torpedo disparado U-504, sob as ordens do Capitão-Tenente Hans-Georg Friedrich Poske. Era comandado na ocasião pelo Capitão-de-Longo-Curso José Francisco Pinto de Medeiros, e fazia a rota entre Durban e Cidade do Cabo, em uma região onde nos meses anteriores os aliados tiveram perdas consideravelmente altas. O submarino alemão era de pequeno porte e tinha em sua torreta a pintura de uma cabeça de lobo emergindo das águas, com os dentes pontiagudos bem abertos à mostra. Depois de arriadas as baleeiras, às 17:20 (CET), o "u-boot" ainda disparou um segundo torpedo contra o cargueiro, fazendo-o submergir rapidamente. Em seguida, veio à tona, e um oficial interrogou o comandante brasileiro em inglês, traduzindo as respostas, em alemão, para o Capitão-Tenente Poske. Entre os náufragos do Porto Alegre estavam 11 tripulantes do mercante inglês Laplace (torpedeado em 29 de outubro pelo U-159), resgatados na véspera – quase todos salvos, após quatro dias no mar. As baleeiras do navio brasileiro chegaram em terra no dia 7 de novembro, a 50 milhas de Port Elizabeth. A única fatalidade foi o imediato Francisco Lucas de Azevedo.

 

Flagrante do Porto Alegre, fotografado pelo submarino alemão instantes antes de ir ao fundo do Oceano Índico. Fonte: U-boat.net

 

 

PRACINHA Nº 687 – Nadyr Kuster Lube

 

Este homem

Que alta madrugada

Passa discursando

Como um louco

É o mesmo 

Que na 2ª guerra

Lutou como um leão

E viu sangue derramado.

Este homem

Que passa despercebido

É o herói,

Que para defender a pátria,

Deixou de ser herói 

Para ser um louco

Um desvairado

Este homem,

Este herói,

Hoje não é ninguém.

Hoje não é respeitado.

Este homem

Pela Pátria

Trocou sua vida

De homem

Passou a louco

De louco, passa despercebido.

Pelas ruas e calçadas

Respeite o homem

Respeite o louco

Respeite o resto

 Do amor à Pátria,

Que se disfarça

Nesse louco

Nesse homem

Que passa discursando

Pela madrugada

Este homem

Que foi um homem

E de homem

Virou número

Um leão

De leão

Um desgraçado,

Hoje passa

Ora como coronel

Ora como capitão

Numa farda

Disfarçada, esfarrapada,

De boné e capacete na mão

Sem saber o que foi

O que é e o que será,

Este homem, digo eu

Este é o Eliseu… 

 

 

Seu Eliseu com a sua esposa dona Frida Olga de Oliveira. Eles tiveram sete filhos: três rapazes – Robson, Romério e Elisio. Quatro moças – Greicia, Gladis, Elisabeth e Sueli.  

 

Uma bela história, desconhecida, e isso acontece demais, infelizmente. Como está no poema da dona Nadyr: “…Este homem pela pátria trocou sua vida, de homem passou a louco, de louco, passa despercebido, pelas ruas e calçadas…”. Eu tenho por hábito, observar as pessoas, no ir e vir, fico imaginando as histórias que essas pessoas têm para contar, que com certeza não são poucas. E falando nisso, aqui em Marechal, nós temos muitas, são pessoas que não podemos deixar cair no esquecimento, pois não passaram aqui por acaso, deixaram suas marcas, agora cabe a nós divulgá-las para que se tornem conhecidas.

 

Giovana Schneider

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