domingo,
24 de novembro de 2024

A Capela da Vila de Marechal Floriano

Giovana Schneider: Escritora, poeta, contista e colunista. Ocupante da cadeira de nº 06 da AFHAL (Academia Florianense de História, Artes e Letras “Flores Passinato Kuster”).

 

Giovana Schneider

 

A IGREJA DE SANT’ANA, ASSIM COMEÇOU…

 

Em 1916, como na Vila de Marechal Floriano não tinha uma igreja, famílias católicas resolveram construir uma capela. E com a ajuda também dos luteranos, a pequena capela foi construída. Em 08 de fevereiro lançaram a pedra fundamental. O terreno foi doado pela viúva Anna Maria Degen Endlich. E em tempo recorde de 10 meses inauguraram com uma grande festa.

 

Desenho original: Cleunice De Paula Effegen

 

Fonte: Igreja Católica Sant’Ana – Marechal Floriano/ES.

 

 

Dom Fernando Monteiro era o Bispo do Espirito Santo na época. Foi ele que autorizou a construção da capela. Era irmão do governador Jeronimo Monteiro. Não viu a inauguração, pois faleceu no Rio de Janeiro em 23 de março de 1916.

 

Benfeitora da Igreja. Devota de Nossa Senhora de Sant’Anna

 

ANNA MARIA DEGEN ENDLICH

 

Nasceu em Santa Isabel, em 14 de março no ano de 1849, filha de imigrantes da primeira leva que chegaram na região.  

 

Divulgação no Jornal Diário da Manhã, de 02 de fevereiro de 1916, sobre o lançamento da pedra fundamental da primeira Capela de Marechal Floriano.

 

Pesquisa: Hemeroteca Digital Brasileira

 

E assim foi feito a colocação da pedra fundamental. Registro da pedra – 08/02/1916; o documento original pertence a Igreja Católica de Santa Isabel – ES.

 

Documento reescrito por Dona Marluce Carreiro Merisio, das atas e relatos encontrados no Livro Tombo, da Paróquia de Santa Isabel:

 

“Aos oito de fevereiro do ano de 1916 se fez a colocação da Primeira Pedra da Capella, na Estação de Marechal Floriano. A ata da colocação da primeira pedra angular tem o seguinte termo: No anno do senhor de mil novecentos e desaseis segundo do Summo Pontificado de sua Santidade o Papa Bento XV, décimo quarto no governo da diocese do Espirito St° de sua Esccellencia  e Reverendissima D. D. Senhor Bispo Dom Fernando de Souza Monteiro ao 8 de fevereiro de 1916 no Patrimonio Ecleciastico existente no lugar chamado Estação Marechal Floriano da freguesia de Stª Isabel foi benzida segundo o Ritual a primeira pedra angular da futura capella que terá por Orago a gloriosa Santa Anna mãe da virgem Santissima pelo vigário Padre Mathias Esser da congregação do Verbo Divino authorizada pelo Exmº Revdo Snr Dom Fernando de Souza Monteiro, (…). Madrinha da Obra Pia é a viúva bem mérita Dona Anna Maria Endlig. (…).

 

Realizado o rito da benção procedeu-se da presente acta, foi collocado dentro da cavidade da pedra benzida a qual foi posta nos alicerces da porta principal ao lado esquerdo. 

 

Com a sagração da pedra fundamental, a capela seguiu na construção que ficou pronta em dezembro do mesmo ano de 1916. E no dia 17/12/1916, a Capela de Sant’Anna foi benzida pelo vigário Padre Mathias Esser, e assim estava decente, provida de paramentos e outros objetos indispensáveis ao culto divino. Foi uma festa bem importante que, até saiu uma bela matéria no dia 20/12/1916 – Jornal Diário da Manhã, que falou muito bem da inauguração da capela”. 

 

Pesquisa: Hemeroteca Digital Arquivo Nacional

 

Manchete noticiando a inauguração da Capela de Sant’Anna.

 

Reescrita do texto da reportagem acima:

 

“Marechal Floriano

 

Sagração da capela – As Festas

 

Homenagens a D. Fernando e ao Dr. Jeronimo Monteiro – Diversas notas. As 8,50 de domingo, partiu da estação de Argolas o trem especial composto de 5 carros de 1ª classe, indo todos eles com lotação excedida.

 

Até Marechal, nas estações intermediarias, ia o trem recebendo mais passageiros, chegando aquela estação às 10,40, mais ou menos. Ao parar o camboio, ouvimos o hino nacional, enquanto vivas eram erguidos ao Espirito Santo, ao presidente do Estado e Marechal Floriano.

 

Neste momento, centenas de foguetes troaram no ar, dando um cunho festivo à nossa recepção. Na gare de Mare6ch6a6l6 v6imos, além de grande massa de povo, inúmeras senhoritas, fisionomias risonhas, deixando transparecer a imensa alegria de que se achavam possuídas.

 

A distinta comissão promotora dessas festas, compostas dos Sr. Bellarmino Pinto Coelho, José Kill e Manuel Endlich, auxiliados pelo Sr. Bento Machado, conduziu-nos à casa de residência do primeiro destes cavalheiros, que se achava confortavelmente preparada para receber os convidados.

 

Após alguns minutos de descanso, fomos até a residência do Sr. Bento Machado, onde nos foi servido um esplendido lanche, após o qual nos dirigimos à capelinha, onde deveria naquele momento se celebrar a primeira missa, depois de realizada sua sagração. O ato solene de sua sagração havia se realizado às 10 horas pelo frei Mathias Esser, a ele assistndo mais de mil pessoas.

 

Às 11 e meia teve começo a missa solene, sendo celebrante Mathias Esser, auxiliado pelo padre Luiz Claudio vigário geral do Bispado. Após a missa solene, pregando o evangelho, Frei Mathias, um belo sermão sobre N.S.Sant’Anna, sob cuja invocação, esta elegante capelinha, tiveram início as inúmeras diversões populares, enquanto a sociedade musical de Todos Os Santos tocava n6o pasto da capela, excelentes peças  do seu repertório variado. Depois de percorrer a capela de N.S. Sant’Anna, regressamos à casa do Sr. Bento Machado, enquanto o povo se entregava a várias diversões existentes no local. As 12 e meia mais ou menos, tiveram início as danças, que correram bastante animadas, ao som o excelente piano. O povo espalhado, percorria os pontos mais pitorescos do local. Cujo o clima excelente e edificações elegantes dotadas de moderno serviço sanitário e iluminados à luz elétrica, demonstram a operosidade do principal executor dessas importantes obras, que é o estimado cavalheiro e importante comerciante local Sr. Bellarmino Coelho.

 

Às 14 horas, dirigimo-nos ao Hotel Marechal, onde em três grandes mesas, foi servido lauto almoço, composto de finas iguarias e deliciosos vinhos estrangeiros, reinando a mais franca cordialidade.

(…)

Eram 4,10 quando o trem partiu entre vivas a Marechal Floriano, a comissão dos festejos e ao Estado do Espírito Santo.

 

O pov6o continuava a se divertir, tendo durante o dia funcionado gratuitamente o cinema Glória, que muito divertiu os colonos daquelas circunvizinhanças. Às 6 horas da tarde, o Sr. Bellarmino Coelho ofereceu lauto jantar a todas as famílias de Marechal, sendo ao champanhe, a6quele cavalheiro brindado pelo Pio Ramos e Bento Machado, as quais tiveram referências elogiosas a esta folha, agradecendo por fim nosso representante. A noite teve uma sessão c6inematografica em benefício da igreja, depois da qual iniciaram-se animados bailes, que prolongaram até alta madrugada.

 

Na segunda-feira celebrou-se uma missa às 8 horas, acompanhadas de quadros sacros, sendo este ato muito concorrido.

(…)

A elegante capelinha foi construída sob a direção, foi entregue ao Frei Mathias, vigário de Santa Isabel, às 10 horas do domingo. a sua pedra fundamental foi lançada a 08 de fevereiro do ano corrente. Foi ela preparada com singeleza, sendo o seu altar mor de madeira de lei, douradas, onde está N.S. Do Carmo e Sant’Anna a padroeira, e NS. Da Penha.

(…) 

Como preito de homenagem a memória de D. Fernando Monteiro, que autorizou a construção daquela capelinha, o povo desse lugar, tendo a frente os Srs. Bellarmino Coelho, José Kill, Manoel Endlich e Bento Machado, farão oportunamente celebrar uma missa solene para a alma do nosso inesquecível, colocando nesse dia, as placas da praça D. Fernando e avenida Jeronimo Monteiro, como homenagem a este grande espírito-santenses.

(…)

Ao terminarmos estas linhas, retribuímos ao estimável negociante Bellarmino Coelho e a comissão dos festejos os nossos agradecimentos pelas gentilezas dispensadas ao representante desta folha”.

 

 

Nos fundos dá para avistar a Capela de Sant’Anna. 

 

Componentes da banda de Domingos Martins – Festa da Igreja Católica em Marechal Floriano/ES.

 

Da esquerda para direita: José Alfredo Rasch, Walter Shulze, Waldemiro Adolfo Hülle, Herbert Faller, Arthur Schneider (ao lado do arcebispo), Waldemiro Alberto Hülle (atrás do arcebispo), arcebispo D. João Batista da Mota e Albuquerque, Guilherme José Brickwedde, Argeo Ewald, Galdino Waiandt e Dr. Arthur Schneider 

 

Obs: Não identificado o Sr. atrás de Arthur Schneider

 

Fonte: na época foi o senhor José Brickwedde, “Sr. Willy”, (informação pelo senhor Roberto Schulze).

 

 

Foto de 1962 da Capela.

 

 

Em 1966 foi realizada a festa dos cinquenta anos da fundação da Igreja Católica em Marechal Floriano. No ano seguinte, no mês de junho de 1967, a Capela foi demolida. Com paredes resistentes, foi necessário utilizar cordas para amarrar as colunas em um carro, e assim a antiga, e elegante capelinha foi ao chão.

 

PS: No livro: Resgatando memórias de Marechal Floriano, de minha autoria, temos a história na integra. 

 

UMA CAPELINHA DO INTERIOR

 

A elegância chamava a atenção

Que linda

Era pequenina

Muito aconchegante

Foi construída com carinho e fé

Com o tempo a população cresceu

A demolição foi precisa

Mas,

A lembrança da Capelina 

Ficou no coração. 

Giovana Schneider

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