Valorizar essa história é trabalhar a cidadania”, arrisca a cozinheira Rosilene Alves Barbosa, 37, que esteve visitando Araguaya acompanhada da filha, a estudante Anna Jullya Alves Pena, 15 anos – Foto: Iago Miranda |
Iago Miranda
Como chegamos aqui? De que maneira e por que permanecemos? São perguntas instigantes como essas que levaram os moradores da Vila de Araguaya, em Marechal Floriano, a preservar e recompor a história dos mais de cem anos de fundação do povoado, intensamente italiano em cada detalhe, como é possível verificar nos muitos museus abertos à visitação.
O vereador Cezinha Ronchi carrega com orgulho a descendência dos fundadores da Vila de Araguaya. No Museu Casa Rosa, Cezinha apresenta o cotidiano de uma família daquele tempo, com destaque para os utensílios antigos, tais como a primeira panela de pressão do mundo (alemã), a cadena (corrente usada no cozimento de alimentos) e as camas com espaço para velas nas laterais.- Foto: Iago Miranda |
“Nosso objetivo é tornar a cidade a Capital Estadual dos Museus”, comenta o vereador Cezinha Ronchi, tataraneto de um dos fundadores da localidade, Ezequiel Ronchi, que empresta o nome a um dos museus, o Centro Cultural Ezequiel Ronchi.
Nesse espaço, o visitante tem acesso a elementos da cultura italiana na formação da cidade, desde carteiras escolares importadas de Oxford, na Inglaterra, até o altar antigo de uma Igreja.
Já ao lado, é possível conhecer o Museu do Esporte, onde, além de narrar os tentos do futebol local, serve de base para o assessoramento da cidadania italiana, realizado pelo advogado italiano do Instituto Nazionale Assistenza Sociale (Inas), Pietro Gerosa.
A estudante Sofia Del Puppo, 15, está em busca da cidadania italiana e para isso veio à Vila de Araguaya para receber instruções do advogado italiano aposentado Pietro Gerosa, 73 anos. “São muitos benefícios, entre eles morar legalmente, poder viajar pela União Europeia sem pressa e até estudar com taxas mais acessíveis lá”, explica Sofia. Voluntário, Pietro afirma: “Nosso trabalho é fomentar a aproximação entre Brasil e Itália”. – Foto: Iago Miranda |
“Ajudamos os descentes italianos, quem já morou ou trabalhou na Itália, a usufruir dos seus direitos em termos de previdência social e cidadania”, comenta o italiano.
Um gramado separa as duas ruas principais que hospedam os museus. Nele, você se depara com a Estação Ferroviária e os trilhos do antigo trem, herança da Estrada de Ferro Sul, construída em 1892.
A poucos metros, a Casa do Nono é um recinto muito visitado, tanto por turistas, admirados com a beleza do imóvel antigo, quanto por moradores, que dispuseram no interior duas mesas para jogar baralho e conversar por longas tardes:
“Venho aqui para me divertir e colaborar com a perpetuação da nossa cultura”, comenta o estudante João Paulo Pivetta de Amorim, 16, morador da localidade, ao ser interrogado enquanto carteava.
Por fim, mas não menos importante, o Museu Casa Rosa acolhe a história de uma família do fim do século XIX, cujos utensílios domésticos e disposição dos cômodos são uma verdadeira aula sobre os hábitos e costumes da época.
“Aqui tem cheiro de antigamente. Gostamos demais da cultura, que é tão evidente pelas ruas, nos museus e nos moradores. Valorizar essa história é trabalhar a cidadania”, arrisca a cozinheira Rosilene Alves Barbosa, 37, que esteve visitando Araguaya acompanhada da filha, a estudante Anna Jullya Alves Pena, 15 anos.
Informações
Museu Casa Rosa: fundada em 23/04/1990, o casario pertenceu ao primeiro vereador e Prefeito da Vila, Francisco Kaniski, imigrante de origem polonesa, que morou ali a partir de 1899. São oito cômodos pelos quais se pode compreender os costumes e hábitos da época. Localização: Avenida dos Imigrantes.
Museu do Esporte: fundado em 18/01/2015, contém fotos, troféus, medalhas, uniformes e informações do futebol local e esporte da região. Serve de sede para informações sobre cidadania italiana.
Centro Cultural Ezequiel Ronchi: fundado em 1995, foi inaugurado dia 25/05/2000. Possui mobiliário, objetos dos imigrantes, fotos das primeiras famílias. Funciona na antiga escola fundada em 1940 pelo interventor João Punaro Bley. Contato: (27) 3288-3338 ou 99718-7370.
Casa do Nono: inaugurada em 04/12/2003, aqui o turista encontra objetos dos imigrantes, fogão à lenha, além de servir de ponto de encontro dos moradores para jogar bocha e baralho, é ponto de encontro da comunidade. Foi feita de estuque para recordar as primeiras casas dos imigrantes.
Estação Ferroviária: fundada em 15 de março de 1902, teve a visita do então presidente Nilo Peçanha em 1910. Por ela, passa a Estrada de Ferro Sul do Espírito Santo.